quinta-feira, 19 de junho de 2008

A cana-de-açúcar brasileira completa 508 anos. E você? vai comemorar?

À época do descobrimento do Brasil e formação dos primeiros agrupamentos até o desenvolvimento de uma “sociedade”, o povo brasileiro começou a se formar de uma mistura de etnias: no início índios, africanos e alguns poucos portugueses. A “colcha de retalhos”, como define o antropólogo Darcy Ribeiro continuou a ser costurada tempos depois, quando o Brasil também começou a receber italianos e japoneses.
O que mudou de lá pra cá? Quase tudo, menos o amor dos brasileiros pela cana-de-açúcar.
Durante o Brasil-colônia quem conhecia o doce sabor do açúcar produzido pelos brasileiros eram, principalmente, os países europeus. Além de Portugal, que obtinha lucros com os engenhos instalados aqui. Darcy Ribeiro cita que por volta de 1570, a produção de cana-de-açúcar havia crescido tanto que o açúcar passou a ser a principal mercadoria do comércio internacional. Os negócios iam bem, e houve uma época em que os engenhos tinham até 30 mil escravos importados.
Quinhentos anos se passaram e a cana-de-açúcar continua fazendo a alegria de muitos brasileiros. O campo cresce. A indústria corre atrás. Segundo estimativa da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), o Brasil já tem 350 usinas em funcionamento. Das 31 que devem ser inauguradas ainda este ano, treze estão no Estado de São Paulo. Com isso, os 30 mil funcionários (escravos importados) do século XVI se transformaram em um mutirão de colheitadeiras e uma multidão de um milhão de empregados diretos e indiretos em todo o Brasil.
A safra de cana-de-açúcar (2008/2009) deverá ser a maior da história, com 498,1 milhões de toneladas colhidas.
Os principais produtos extraídos da cana-de-açúcar, na época do Brasil-colônia eram açúcar, rapadura, aguardente e melado. Hoje, o “guru” dos usineiros é o etanol, produzido a partir de 1975 e utilizado em larga escala após o início da fabricação de veículos flex.

A principal característica da indústria canavieira é a expansão através do latifúndio, resultado da alta concentração de terras nas mãos de poucos proprietários.
Nesse contexto, a figura do senhor de engenho marcou a história do Brasil. Darcy Ribeiro destaca: “A casa-grande alcançava grandeza de solar senhorial com torres e capelas, e as senzalas, onde se acumulavam dezenas de escravos, geralmente na forma de um vasto barracão coberto de palhas”.
Com isso, naturalmente a sociedade brasileira nasce em torno do complexo formado pela economia do açúcar. Os modos de vida e os costumes da época formaram a chamada cultura crioula, originada e desenvolvida nas matrizes culturais indígenas, africana e européia. Apesar da cultura ser um resquício das características desses três povos, um novo estilo de vida foi formado, cujos integrantes (os brasileiros) olharão o mundo, se relacionarão uns com os outros e atuarão sobre o meio de maneira completamente diferente. O senhor do engenho era o detentor predominante da classe mais abastada, cuja hegemonia se projetava na sociedade inteira, submetendo todos à estrutura hierárquica do engenho.
No nordeste, como por todo o país, o negro foi ‘desculturado’ de suas matrizes originais e aculturado à etnia neobrasileira.
Durante o desenvolver de todo esse processo restaram ainda os cultos, fundados nos costumes africanos e que ainda hoje tem adeptos; a massa assalariada, que, livre, permanece atada às plantações; e uma parcela de escravos (não é raro ler ou ver pessoas nos grandes centros ou no interior submetidas ao regime escravo).
Quinhentos anos se passaram.
Continuamos sendo o maior produtor de derivados de cana-de-açúcar do mundo. Permanecemos no mesmo padrão de estrutura social do Brasil-colônia: usineiros muito ricos de um lado e trabalhadores braçais muito pobres, do outro.
Evoluímos?