Uma sala cheia de flores. Coloridas, com recadinhos de carinho e amor. Acho que ela não esperava receber tantos ramalhetes. Sempre foi uma mulher discreta, sem luxo ou frescuras.
Na sala, ao som de música calma e à luz de velas, em meio a outras pessoas que estavam ali, li mensagem a mensagem. Só Deus sabe o que se passa em minha mente nessas horas.
Lembrei das histórias que meu pai e tios contam. Matilde Catarina nasceu no Rio Grande, falava italiano fluente. Casou-se nova e teve 11 filhos. No pequeno sítio, passou fome e alimentava os filhos com aquilo que conseguia. Desbancou o Aurélio e tornou-se a chefe da casa. Sempre teve força, vontade, disposição e coragem. É do tipo “exemplão”, sabe?
Católica de rezar o terço todos os dias e ir à missa pelo menos 3 vezes por semana, incomodou os céus mais de mil vezes pedindo proteção para os 11 filhos, noras, genros e os 24 netos. Por interseção divina e extrema alegria, teve um filho padre.
Viveu e sobreviveu.
Depois dos 75 anos ela veio com uma ideia: “Já tá na hora de me mudar e morar na Vila Nova”.
Expectativa
Vila Nova é o bairro da cidade de Matelândia – PR onde fica o cemitério. Nos últimos tempos Matilde Catarina ficou teimando que estava na hora de morrer. Até que em 2010, conseguiu.
Reflexão
Eu nunca entendi e até hoje não entendo. Talvez a maturidade me faça compreender.
Fiquei pensando como as pessoas tem focos e objetivos de vida diferentes. O meu é viver (muito). O da minha avó era morrer (o quanto antes). Ela conseguiu ir para a Vila Nova e antes de chegar ao destino, teve uma delicada cerimônia, com todos os filhos e netos reunidos e ainda teve honrarias de 10 padres celebrando o velório.
A vida é feita de objetivos e a morte causa expectativa. A danada da vó conseguiu o que queria – até o último momento.
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